terça-feira, 25 de setembro de 2007

Homem & Mulher


1)Ponto de vista masculino


Um texto de erotismo encantador...


A BELEZA INTERIOR DA MULHER


- Lázaro Barreto.



Desde quando a conheci e dela enamorei-me e com ela noivei e casei que vivo esforçando-me (como diria Shakespeare em “Noite dos Reis”?) para injetar minha alma no corpo dela e assim conhecê-la por dentro como já (presumidamente) já a conhecia por fora mas desde sempre meus olhos sonham morar nos olhos dela minhas mãos desejam acariciar-lhe de dentro o ventre grávido de sua vitalidade meus lábios querem beijar também por dentro o umbigo dela que já fechado por fora e assim foi assim que num belo dia seguindo pelo descampado até chegar ao pé da serra quedei-me a vislumbrar a região da mente dela a mente dela que é como se fosse a própria pessoa dela na hora mais sutil dos arrazoados das cintilações das sujeições e dos objetivos da mente que tem olhos verdes negros azuis castanhos imbuídos de pensações lilases envolvendo a metafísica nas horas vagas e a poesia nas horas ocupadas e ali bem perto dos olhos a boca com a senha das possibilidades dos assovios e cantorias e balbucios e dentadas e dos beijos na propulsão dos ímpetos nos beijos as saudações da saúde nos beijos a ânsia de penetração das palavras de amor as evasivas do silêncio repentino entre a boca e o sexo e assim a seguir entre o céu e a terra nos ondulados horizontes a descobrir os renovados aspectos e semblantes e sabores sob o transparente cortinado a rever os meandros e matizes do paisagismo mimético repleto de mimos garridos das beldades gratuitas dos seres multicelulares apinhados de seculares sensualidades ah tenho dito que não passo de um reles fazendeiro situado aqui nesta Cachoeira do Corpo Inteiro na região das chamadas Sete Léguas ao Redor onde vivo por viver sem nada criar nem destruir sempre a cuidar dos pastos e roças das nascentes e dos poentes de minha própria pessoa.



De minha própria pessoa tiro a força de vontade para entrar e sair nas grutas e minas e capoeiras do corpo da amada no qual fico dentro horas e horas a folgar descansado e ofegante assim horas e horas esquecidas e lembradas atentas e dormidas a respirar e aspirar os frescores e calores dos momentos mais eternos da intimidade onde apraz-me palmilhar as várzeas e beiradas de rios e esbarrancados em seus lotes de praias e de matas ciliares ora deitado na relva ora nadando de braçadas nas correntezas e remansos de onde a seguir ponho-me a caminho das trilhas nas veredas das frondes hospedeiras já dentro da capoeira e na beira da clareira onde paro para espiar o que os olhos físicos transferem para os anímicos no sombreado das folhagens cenográficas a resvalar-me a espremer-me nos ícones feiticeiros e totêmicos dos humores perfumados na obscuridade dos ares agora gretados.



Dos ares agora gretados entro na gruta onde a pátina pacienciosa vai aperfeiçoando as feições das criações e das criaturas das belezas naturais e já da porta da gruta vejo e sinto as alongadas lantejoulas pendentes do teto encurvado e meloso a sentir então mesmo ali naquele momento que realmente estou na região dos palácios da mãe da água dos poços de tantas riquezas e magias ainda a ouvir sim ainda a ouvir o gemer da floresta lá fora e o cantar dos passarinhos lá fora agora a observar o préstito nos círculos sob abóbadas de ermidas laterais e dos silenciosos turbilhões entre blocos de artefatos de argilas reluzentes (veieiro de pirites? oligisto especular?) dos remotos vestígios agora tão futuristas nas furnas e lapas adjacentes cada qual mais convidativa aqui e ali prenhe de filetes ruborizados e lembranças e perspectivas de bocainas desterros araxás nos sacrários e caraças e sossegos e sumidouros e congos e tiriricas a ver também os miúdos mares de espanha e algumas cavernas entupetadas de especiarias e também as inscrições rupestres estritamente primitivas e artesanais no caprichoso desacerto da expressão figurativa nas paredes internas do alambrado daquelas eras tão perenes e mais um passo que dou encontro as concreções estalactáticas em seus esvoaçantes cortinados e púlpitos e altares e vitrais ah oh a ascese das devoções de um certo iluminamento celestial a vazar do estatuário das súbitas aparições.



A vazar do estatuário das súbitas aparições eu penso e sinto como é bom apalpar as maçãs dos peitos do lado de fora e chupar as laranjas campistas do lado de dentro contente e feliz no sombreado do pomar recoberto de orquídeas a navegar na interioridade do esbelto corpo da amada finalmente conhecendo os momentos e os lugares na inteireza multifacetada das copiosas membranas e células e microorganismos álacres e pululantes assim mesmo na profusão ágil e viva e coesa dos tecidos microscópicos as esferas os discos as varas os fusos o temperamento dos sais com os doces e os cálcios o apego das raízes e cipós nas intermediações da constelação biológica da funcionalidade logística dos segmentos intrinsecamente articulados.



Os segmentos articulando toda a engrenagem na beleza harmônica da sociabilidade dos elementos e das junções multidirecionais e uniformizadas em tantas variações contendo aqui e ali os genes as enzimas as proteínas as clorofilas as moléculas os pigmentos as dobras macias as ósseas vértebras tudo a perpassar a transcorrer detidamente em rigorosa disciplina cada uma das mínimas unidades estruturais até chegar à aldeia onde vivem os cromossomos aguardando o porvir enquanto sorve mais um gole da saborosa libido para inteirar-se das energias psicossomáticas e assim mesmo sem tirar nem repor que repenetro nessa beleza interior pelos canais competentes até lá onde posso abraçar as folhas dessa roseira como se essa roseira fosse uma bainha abraçando uma cintura mesmo ali onde a cova macia do terreno recebe a semente e desenvolve o embrião mesmo ali onde as flores passam entre galhos e trompas e sintetizam os hormônios do bem estar para que assim possa a pessoa de tantos adereços e aglutinações cantar suas louvações ao Criador das Maravilhas e é assim refeito em mim mesmo depois da transida incursão e já do lado de fora da enxameada senda de mel e albores fico agora a contemplar a vivíssima paisagem dos altaneiros sítios da mente dela a mulher de olhos verdes e negros e azuis e castanhos e belos como tenho dito.




2Ponto de vista feminino



Sobre DELEITE, de Lázaro Barreto


(da palavra amoROSA)



Que poema plúmeo e carnal,garça e peixe!

Da papilonácea forma ,a sombrear

a doce calcinha branca de C.Charisse

ele não fala em compasso aberto,

pernas de homem a retesar desejos.

A borboleta oculta, ele não disse,

mas todos a vêem e imaginam

pulsátil qual o próprio poeta,

rósea recoberta de penugem

ali presa sem poder voar,

até que seja liberta

pela pena e pela escama

anagrama em cores,

na grama, na cama, no ar...


Clevane Pessoa

Bbelo Horizonte, 18/12/2006


Nenhum comentário: