terça-feira, 30 de outubro de 2007

Neuza Maria Ladeira :"Meu Amor"


Neuza Maria

MEU AMOR



Meu amor

No mal sem cura

No céu sem ar



Sente-se amado

Aquele que ama



Amor não se inventa

Vive



Quando me goza

Gozo-te também



Ao copular

união

Entrelaçados



Meu amor sente-se amado

Livre e despojado

Depois de tantas estações



.NEUZA LADEIRA

domingo, 14 de outubro de 2007

SEM DONO




SEM DONO




Hoje ela me ligou e me tirou o sono. É muito difícil dormir, quando uma mulher linda te liga dizendo que quer transar com você, nem que seja por telepatia ou em sonho.

E fica ainda mais difícil dormir, quando você sabe que ela está cheia de sensualidade e sem dono.

E não pensem que eu gostaria de ser o dono dela. Pelo contrário. Se assim o fosse, acho que teria ciúmes de mim mesmo. Seria como ter que conviver vinte e quatro horas por dia com um odiado rival. Acho que, se eu fosse dono dela, eu me dividiria em dois. Um seria eu mesmo. Outro seria o dono dela. E os dois não se dariam bem. Viveriam às turras. Detesto qualquer um que se arvore a ser dono dela. Inclusive, eu mesmo.

Ah, e como me excita sabê-la sem dono! Sem dono ela fica mais bonita, mais amor, mais sexo. Livre, ela fica mais mulher. Sem dono, ela, leonina, vira uma leoa e eu, virginiano, torno-me um (re) desvirginador voraz. Sem dono, a alma dela me seduz de uma forma sexualizada e eu fico imaginando, enlouquecido, como seria se eu pudesse penetrar sua alma, como faço em seu corpo. Seria divino, se eu pudesse gozar em sua alma, encharcando-a com espermas espirituais. Que loucura! Mas, é assim que eu fico: louco, quando ela está sem dono.

Exorcizo meus pensamentos malucos. Esqueço da fantasia sobre a alma e lembro-me do corpo dela. Queria tê-lo agora. Mas, às vezes, as coisas não podem ser como eu quero. É muito tarde para atravessar a cidade. Melhor conformar-me em ficar na imaginação, lembrando-me do corpo dela, agora sem dono, como eu gosto, e, de preferência, nu. Imagino-a nua e isso me excita. Mas, fico só na excitação. Não ousaria traí-la. Nem com a minha própria mão. Não agora, que ela já não tem mais dono.

Parece loucura, mas é assim que a desejo. Sem dono. E, por mais que possa parecer contraditório e incompreensível (ela, tenho certeza, compreende), só assim consigo ser dela plenamente. A verdade é que, agora, ela me possui. E, sem dono, ela é plenamente minha dona. Senhora de mim, ela reina absoluta em todas as posições possíveis e imagináveis, proprietária exclusiva do meu pênis, da minha língua, das minhas mãos, de todo o meu corpo e, até, da minha alma.

Porque é assim que a amo. Sem dono.

É assim que eu gosto de ser dela...


Luiz Lyrio

Texto publicado em "Estalo, a Revista,vol.4 e gravado no CD OISE (selo aNomelivros),na voz do autor.

sábado, 13 de outubro de 2007

Johnnie e Boneca




(...) Depois de alguma resistência, os botões da blusa foram abertos um a um. Suspirou, quando a mão fez o primeiro contato. Era morno. Alguns beijos molhados e os dois pularam para fora. Os bicos eram rosa, muito pequenos; o branco se destacava contra a pele morena(...)

Marco Aurélio Lisboa, em Johnie e Boneca(conto na página anterior)

JOHNNIE E BONECA


O requintado e exigente contista mineiro Marco Aurélio Lisboa, nos manda um conto , onde o protagonista é Eistein.Eis suas palavras:

"Oi,
O seu site erótico está ótimo. Lembrei que tinha um conto incompleto e resolvi finalizá-lo. Ele tem uma primeira parte independente e é cheio de brincadeiras e referências que, para um físico são um prato cheio. A carta citada é rigorosamente verdadeira. Einstein e Mileva se tratavam por johnie e boneca, em sua correspondência amorosa. O resto todo é por minha conta. Espero que goste.Pode abrir o arquivo anexado com segurança(...)"

Agradecemos o envio e o elogio ao blog , no que ele costuma ser parco.


Johnnie e Boneca

Só seis alunos haviam se matriculado na Seção VI-A, Física e Matemática, da Politécnica. A relação estava afixada na entrada da sala, em ordem alfabética de sobrenome. O primeiro era Ehrat, eu vinha em seguida, depois Grossmann, seguido de Kollros. O último nome parecia sérvio e eu não tinha certeza de como pronunciá-lo.

Ela entrou coxeando, em silêncio, e ficou nos olhando, com um ar severo. Quando comentei as minhas impressões de Mileva com Besso, fui cruel: coxa, gordinha e neurastênica. Eu nunca me engano em minhas primeiras impressões. Ela nunca soube desta conversa. Foi a minha primeira traição, a minha primeira mentira. No outro dia começou a loucura.

Lise, minha prima, ficou arrasada. A coitadinha me amava como um cachorrinho estabanado, que a todo instante tropeça no dono. Eu sentia sua falta, quando estava longe e me irritava com a sua adoração, quando estava ao seu lado. Sabia que ela me amaria de qualquer maneira, não importando o que eu fizesse. Mileva era diferente, no início eu até pensei que poderíamos discutir Física de igual para igual.

Sempre fui fascinado pelos telhados vermelhos de Berna e recordo que, aquela noite, logo que saímos da aula, eles estavam grenás. Em breve, passariam pela cor daquele moscatel que era meu preferido, até se tornaram um corpo negro, opaco como fuligem. As silhuetas pontiagudas então se perderiam numa anônima massa escura.

As lâmpadas elétricas, que me lembravam os projetos frustrados de meu pai, felizmente haviam sido quebradas naquele trecho e o muro era baixo, fácil de ser pulado, mesmo para ela. A árvore era convidativa, o tronco inclinado e largo; o quintal estava deserto e a casa ao fundo parecia abandonada.

Depois de alguma resistência, os botões da blusa foram abertos um a um. Suspirou, quando a mão fez o primeiro contato. Era morno. Alguns beijos molhados e os dois pularam para fora. Os bicos eram rosa, muito pequenos; o branco se destacava contra a pele morena. A mão partiu em busca de novos territórios. A saia foi erguida e minha perna, entre as suas, garantiu a abertura de nova frente.

Depois de duas tentativas frustradas, mudei a abordagem.

- Como é que ela está? - minha mão estava por cima do vestido, pressionando o delta ambicionado.

- Ela quem? - pelo tom de sua voz, senti que a nova investida seria bem sucedida.

- A caixinha de veludo - Mileva gostou da imagem.

- Ela não tem nome?

- Boneca. A minha boneca - não sei de onde tirei esta!

- A boneca está com medo - é incrível como mulher adora estas criancices.

- Medo de quem?

- Dele.

- Ele não tem nome?

- Johnnie.

Endireitei o corpo e dei um pouco de espaço entre nós dois. A presa não ia fugir.

- Fale com ele - a minha mão precisou conduzir a sua. - Saboreei o susto que seus dedos denunciaram.

- Oi Johnnie - a pressão ainda era tímida. - Ela o tocava com os dedos esticados, sem segurá-lo.

E assim prosseguiu este diálogo a quatro, que terminou em gemidos e explosões, bem a tempo de escapar do guarda noturno. Eu mal pude esconder o Johnnie, e tive que ocultar Mileva com o meu corpo. Ela conseguiu fechar alguns botões e descer a ampla saia sobre a confusão do campo de batalha. Ficou uma dúvida razoável na mente do representante da lei. Tivemos que deixar os nossos nomes, endereços e ocupações.

- Uma mulher estudante de Física! - nessa ele não acreditou. A partir deste dia, em nossa correspondência, eu fui o Johnnie, e ela a Boneca. Antes de deixá-la na pensão, vieram as palavras inevitáveis:

- Eu te amo, Albert.

- Eu também te amo, Mileva.



O outono está chegando e eu passo horas andando pelo parque da Universidade de Princeton, procurando os vermelhos de Berna nas folhas caídas. As árvores estão perdendo seu verde escuro brilhante, bem diferentes das cores cansadas da Europa.

Já disse aos médicos que não quero fazer outra operação, sinto que o meu tempo está acabando. Pela primeira vez em minha vida, não tenho mais projetos. Meus pensamentos estão de volta àqueles anos em que era jovem e podia fazer qualquer coisa. A única pergunta que realmente importa agora é: será que fiz a escolha certa?

- Quem é mais importante para você? – Eu, ou a transformada de Lorentz?

Um dia eu não agüentei mais e disse a verdade. Ela adoeceu. Ou era isto, ou eu não teria desenvolvido a relatividade restrita. Valeu a pena? Por que eu estaria predestinado a ser Einstein e não Albert ou Johnnie? Poderia ter levado uma vidinha burguesa, funcionário exemplar do Departamento de Patentes, pai amoroso de três crianças lindas. Poderia ter sido um violinista melhor, isso daria um toque de boemia. A humanidade esperaria um pouco pela relatividade. Talvez não tivéssemos uma bomba atômica.

Não, não houve uma escolha. Eu sempre fui Eisntein. Uma pedra que busca o seu lugar no Universo. Abandonado, eu caí em queda livre, rumo ao meu lugar natural. Sempre que penso em Mileva, não consigo fugir da analogia com a experiência de Rutherford: uma partícula alfa indo em direção ao núcleo de um átomo de ouro. No meu caso, a deflexão foi de 180 graus. Eu realmente odiei Mileva. Ela me deixou mais cínico, mais amargo. Casei-me com minha prima, cortejei a minha enteada, tornei-me Einstein. Um velho com a língua de fora, um ar bondoso e ao mesmo tempo desligado. Ascético e altruísta . Nada seria capaz de mudar está imagem, nem mesmo aquela carta que um dia escrevi, impondo as condições para voltarmos a viver na mesma casa.

“a) Você terá de se encarregar de que minha roupa esteja sempre em ordem, de que me sirvam três refeições diárias, de que meu quarto esteja sempre em ordem e de que ninguém mexa no meu escritório; b) Você deve renunciar a todo tipo de relações pessoais comigo, com exceção daquelas necessárias para a manutenção das aparências sociais. Não deve pedir que me sente com você em casa, que saia com você ou que a leve para viajar; c) Deve se comprometer explicitamente a observar os seguintes pontos: não deve esperar afeto de minha parte e não me reprovará por isso, deve responder imediatamente quando lhe dirigir a palavra e deve abandonar meu quarto ou meu escritório em seguida".

Fui um tirano doméstico e um mau pai. Tive amantes ocasionais, e mulheres eternamente dedicadas a mim, que me endeusaram. Meu nome foi usado para justificar as piores políticas. Como cientista, mereço todas as estátuas e mais algumas. Valeu a pena?

A luz do abajur me incomoda, interponho a minha mão. Nas suas costas vejo as veias saltadas e uma pele coberta de manchas senís. O quarto todo está escurecendo, os objetos vão perdendo o contorno e uma veia lateja em meu cérebro. Antes do fim, a minha mão enrugada se fecha sobre os seios mornos de Mileva."

(Marco Aurélio Lisboa, Belo Horizonte, MG)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um dia a montanha foi mar...(Clevane Pessoa)






Um dia a montanha foi mar...



Clevane Pessoa de Araújo Lopes



Os dedos do poeta que escreveram versos

em corpos marcados de poeira e amoras,

compensados pelo cheiro impossível dos impedimentos.

Molharam-se na maresia das praias desertas e jamais dantes

percorridas pelos os róseos pés aquecidos ao sol intenso...

Criaram ,com as suaves unhas, hieróglofos em forma de cunhas

para que quando as asas do tempo trouxessem viajantes do futuro,

e então aquele amor estranho e intenso de amantes

fornecesse matéria abstrata para o código abstrato,

os estudiosos se perguntassem se era plausível, possível,concebível,

que se amasse tanto assim, através dos dedos da alma,dos dedos das mãos

já antigas quando tudo começou e deixou signos e signais...



Mar, não existe nehum mar agora,e apenas atrevidas, erguem-se as montanhas,

as montanhas fartas ,verdes e sensuais das Minas Gerais,

que escondem nos seios e nas ancas , nos ventres misteriosos e grávidos,

tais segredos ancestrais...



E eu, que ao ler os versos do poeta, passo os lábios e encomprido os olhos sensuais,

quero ouvir sua voz, e pensar que foram escritos para mim, esses poemas embalsamados:

juro que têm gosto de sal e de algas, de sol e de estrelas -do -mar,

gostos de praias e peixes , os mesmos cheiros e sabores que ,por atavismo ,teimosos,

guardam-se na concha resguardada entre minhas pernas bambas,

a aguardar, séculos após, que desenhes novas letras e rimas no meu corpo

e que com tua língua antiga e sábia, o sal e o calor lambas,

em busca da pérola nacarada que resgatarás da leve espuma

para o prazer sutil e absoluto,para a riqueza acumulada em tempo de espera...



Na montanha , houve mar,em priscas eras, onde amaste outras mulheres

mas quem se guardou inteira para o equinócio da primavera

e preservou rosas esverdeadas e cheias de ondas, salgadas e perfumadas

fui eu, para teu gozo, musa de teu sonho, de tua luxúria, de tua im/paciência...



Por isso, leio tua Poesia magistral e catártica,plena de códigos
para mulheres de outrora
e acredito, entre ingênua e buliçosa,

que escreveste ,mesmo sem saber, todos os códigos da rosa,

para que eu a lesse e entendesse, decodificasse e repondesse, um dia...



BH, 10/10/2007

"O Som de Negros em Cuba"(Lázaro Barreto)




O SOM DE NEGROS EM CUBA (*)


- Lázaro Barreto

Quando chegar uma das luas cheias de teu olhar
ao som dos nativos de Cuba no Caribe
irei a teus lábios
escalando teu corpo de formas emboscadas.
Quando os pingos da água na folha do inhame
forem rosas de maio de doze pétalas cada
irei a teus lábios.
Irei a ateus lábios
pelos cinco caminhos da beleza de teu rosto:
os olhos, fontes de auréolas
o nariz dos merecidos beijos
os lábios que comprimem e reviram
os dentes de imprecisas romãs
a língua, pétala clitórica, fita de palavras
imprevisíveis.
Irei a teus lábios.
Sempre digo que irei a teus lábios,
ó lenitivo das horas montanhosas!
ó manacá na serra das hortênsias!
Sempre a ler a caligrafia das rugas rubras
irei a teus lábios.
A seguir as incisões da água e do vento na pedra
(esse livro de folhas coladas)
irei a teus lábios.
sempre digo que irei a teus lábios
no calor temperado de folhas verdes.


(*) – Paráfrase do poema de Federico Garcia Lorca.
imagem.


Imagem:cartaz do filme Durty Dancing 2 -Noites de Havana ("amor e música na revolução cubana")

Noites de Havana" ,ambientado no ano de 1958.
baseou-se numa história real :a vida da da coreógrafa e produtora americana JoAnn Jansen.
Ela passa a adolescência em Cuba,onde experencia , em La Habana seu lado amoroso, sensual ao lado de um rapaz cubano.



Poema publicado originalmente, por Everi Carrara ,na Coluna Cultural http://telescopio.blog.terra.com.br/, onde se encontrará mais poesia e artes.